Volta às aulas

A tevê, os jornais, as revistas, os panfletos dos supermercados invadem nossos últimos dias de férias com propaganda maciça de uniformes, mochilas, livros, cadernos e demais materiais escolares. É!… não dá para esquecer que as aulas vão começar… E como estão os preparativos aí na sua casa? Os horários de dormir já estão sendo modificados? Nas férias sempre acabamos permitindo que nossas crianças durmam e acordem mais tarde, não é? Também tornamo-nos menos rígidos com os horários de refeições. Afinal, não temos aquele compromisso rigoroso de horários e podemos ser mais liberais com as crianças. Mas as aulas vêm aí e devemos, aos poucos, ir adaptando nosso ritmo e o espírito das crianças para, juntos, assumirmos o compromisso com os horários e responsabilidades escolares. Duas situações diferentes podem estar acontecendo na sua família. Uma é a ida de seu filho à escola, pela primeira vez, e outra é o retorno de seu filho às aulas. Vamos conversar um pouco sobre ambas.

Indo à escola pela primeira vez

Vou partir do pressuposto de que você tenha tido o cuidado de escolher criteriosamente a escola de seu filho, conhecendo o seu espaço físico, o pessoal que nela trabalha, a sua proposta pedagógica e de que já tenha levado sua criança para conhecer a escola e os adultos com quem ela terá contato e passará boa parte de seus dias. Pode ser que, a princípio, seu filho chore e se recuse a ir para a escola. Poderá acontecer também de você ficar com o coração apertadinho, cheia de culpa por impingir-lhe uma situação de desconforto e estresse emocional. Isso é normal e acontece com bastante freqüência, por isso você não deve se desesperar nem se julgar diferente da maioria das mães. Quem é que não fica ansioso, inseguro ou com medo diante de situações novas? O desconhecido sempre nos parece ameaçador, não é mesmo? Vamos tentar entender o que se passa dentro de nós e de nossos filhos para trabalharmos melhor essa fase inicial de escolaridade. Muitas crianças vão para a escola muito cedo, às vezes com poucos meses de vida, em função da necessidade materna de manter um trabalho rentável fora do lar.

Sabemos que, no início da vida, há um elo muito próximo e forte entre o bebê e sua mãe; é como uma continuidade da vida intra-uterina.Quando esse período é bem vivido, a criança tem a sua saúde emocional fortalecida, através da satisfação de suas necessidades físicas e emocionais adequadamente assistidas. Desta forma, ela guarda dentro de si uma imagem de uma mãe boa, amorosa, amiga e protetora, imagem esta que lhe servirá de conforto nas ausências maternas futuras. As primeiras referências de uma criança são as relações familiares e o seu mundo é a rotina da casa onde ela vive. Ir para a escola maternal significa um rompimento com esse mundo conhecido e isso pode ser fonte de insegurança e medo para a criança e até para seus pais. A intervenção amistosa e segura de uma professora bem preparada costuma atenuar o impacto desta separação, amenizando as expectativas negativas desta vivência, na medida em que ela vai conversando com os pais e com a criança, esclarecendo-lhes as dúvidas, mostrando-lhes os aspectos positivos e produtivos da nova experiência, transmitindo carinho e amizade à criança.

A intensidade com que cada um vai experimentar ou a forma como vai atravessar esse período vai depender dos aspectos particulares de cada personalidade participante do processo e, também, da dinâmica familiar. Um fato a ser admitido é que essa separação é algo inevitável na vida de cada um de nós e, ainda que seja um processo doloroso, costuma trazer crescimento para todos os envolvidos. É importante que os pais vejam a situação não como “um mal necessário”, mas como algo bastante positivo e enriquecedor no desenvolvimento de seu filho. A escola maternal e a pré-escola têm pouca semelhança com o aprendizado formal dos anos seguintes, mas o que a criança pode aprender freqüentando-as será de grande valor para sua vida futura. Ali ela terá espaço para brincar e aprender brincando: a interagir com outras crianças e com adultos estranhos ao seu universo familiar, noções de cidadania, de educação musical e ambiental, a importância do cumprimento de prazos e horários e que há limites para a satisfação de suas vontades, a ouvir o próximo e a tratá-lo com urbanidade e respeito. É importante frisar que brincar na escola é totalmente diferente de brincar em casa, pois lá a professora intervém de forma intencional no brincar, de modo a desenvolver as capacidades infantis. É um brincar organizado, monitorado, com objetivos delineados e resultados medidos. Lembre-se: é absolutamente normal que as crianças pequenas, que estão indo para a escola pela primeira vez, sofram de “ansiedade de separação”. Elas sentem medo de que os pais não voltem para buscá-las e fantasiam o abandono. É importante que os pais lhes demonstrem interesse pela experiência que elas estão vivendo, que as encoragem, reforçando-lhes a auto-estima, diminuindo-lhes a ansiedade, mostrando-lhe aspectos entusiasmantes da escola (conhecer novos amiguinhos, poder brincar com eles, etc) e tranqüilizando-os quanto ao amor que sentem por elas, quanto à proximidade que manterão com a escola e com sua professora e quanto a estarem lá, para buscá-los no horário de saída. Caso os pais notem que essa ansiedade se mostra na forma de pânico ou pavor é recomendável que procurem aconselhamento e ajuda com profissionais especializados e competentes.

Retornando às aulas, após as férias

O significado da recusa de voltar às aulas após as férias é diferente da recusa da criança que vai a ela pela primeira vez. Algumas vezes essa recusa é motivada pela insegurança gerada por motivos como: doença de uma pessoa próxima, separação dos pais, excesso de atividades fora do período escolar (balé, natação, inglês, informática, etc…) e o receio de não corresponder às expectativas dos pais, notas baixas e dificuldades de aprendizagem anteriores, a troca de professores, o temor de que seus colegas sejam diferentes da turma em que estava, etc. Esses costumam ser sintomas passageiros. Caso persistam, os pais devem procurar orientação com os profissionais da própria escola, com o médico pediatra e com um psicólogo. A família e a escola devem deixar claro para a criança que há uma parceria entre eles e um pacto visando o seu desenvolvimento harmonioso, com o qual ela se sinta realizada, confiante e feliz. Hoje em dia, a formação dos profissionais que atuam nas escolas é mais completa e aperfeiçoada. A maioria delas conta com equipes de coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais e psicólogos. Há, também, uma preocupação maior com a criança como uma pessoa individualizada e em se acompanhar de perto o seu processo individual de desenvolvimento. No entanto, de nada adiantam todas essas características se a criança não gostar da escola. É importante que ela se vincule emocionalmente aos professores, aos funcionários e que tenha amigos na escola. Ela precisa sentir que aquele espaço também lhe pertence e que se sinta bem ali, para ter prazer de ir à escola não só por causa das pessoas que dela fazem parte, como por tudo o que acontece por lá. Mais importante do que manter seu filho numa escola bem conceituada é mantê-lo estudando num lugar de que ele goste e onde se sinta bem. Diante de um filho que se recusa a ir para a escola, recomendo-lhe o bom senso acima de tudo. Ouça suas queixas com atenção, investingando-as e peneirando-as, demonstre interesse e solidariedade pelos seus sentimentos, garantindo-lhe com carinho, porém com determinação, que tudo poderá ser resolvido sem que ele deixe de freqüentar as aulas. Evite ceder ao seu pedido de ficar em casa. Ele provavelmente vá tentar desafiá-la, mas a firmeza dos pais nesta hora será o melhor que eles poderão oferecer à criança. Lembre-se de que na fase pré-escolar (de 2 a 6 anos) a criança começa a pôr em prática o que aprendeu em seu ambiente e através do comportamento de seus pais. Pessimismo, insegurança, medo… também são aprendidos, portanto vigie sua maneira de pensar e agir no ambiente doméstico. Lembre-se, também, de que as crianças não são sempre boazinhas e muitas vezes mentem com o propósito de alcançar seus objetivos, portanto não acredite em tudo o que seu filho lhe falar. Caso você tenha dúvida quanto à veracidade de um fato relatado por seu filho, não insista imediatamente no assunto. Peça para ele lhe contar a história, outras vezes, em momentos posteriores diferentes e compare as versões. Nem sempre é verdade que o amiguinho lhe bateu ou que a professora tenha lhe colocado de castigo ou lhe subestimado na presença de outros. Caso descubra que ele mentiu, não lhe acuse de “mentiroso”, pois isto não costuma ser producente. É aconselhável que você lhe explique, com calma, as conseqüências negativas de uma mentira, de preferência com exemplos práticos. Deixe claro para ele que é errado mentir e que uma mentira pode prejudicar seriamente uma pessoa.

Há escolas que trabalham com métodos tradicionais de ensino e com disciplina rígida; outras utilizam métodos mais modernos, são mais maleáveis quanto aos aspectos disciplinares, permitem maior liberdade de expressão, etc. A escolha da escola e o momento de matricular o seu filho depende dos pais e de suas aspirações. Cada um sabe o que é melhor e o mais acertado para seu filho. Qualquer criança pode apresentar “recaídas” que a levem a desejar ficar grudada ao ambiente doméstico, sob a proteção dos pais, mas essas situações serão menos freqüentes na medida em que a escola lhe acene como um lugar agradável e que lhe ofereça boas condições de adaptação. Daí a importância de escolher com cuidado e critérios bem estabelecidos a escola de seu filho. Desejo a todos um bom começo de ano letivo!

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