Rotavírus, diarréia e desidratação

 

Soro e vacina contra rotavírus são armas eficazes contra desidratação

Ações do Ministério da Saúde tentam reduzir incidência de diarréia, problema que pode até matar, principalmente as crianças pequenas

Em 2005, mais de 28 mil crianças de até 5 anos foram internadas em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) por desidratação causada por diarréia. Nessa circunstância, a perda excessiva de água e de sais minerais pode causar a morte da criança. Para diminuir a incidência de desidratação e diarréia e reforçar os cuidados junto à população, a area técnica do Ministério da Saúde voltada para a atenção à Saúde da Criança lançou uma campanha que reforça a importância do uso do soro oral.

O soro, distribuído gratuitamente nas unidades básicas de saúde, é fundamental para prevenir a desidratação, porque contém os sais minerais que a criança perde quando tem diarréia.

Os pais devem ficar atentos aos sintomas de desidratação e procurar uma unidade de saúde rapidamente, quando perceberem que seu filho apresenta diarréia muito intensa, vômito freqüente, febre e sangue nas fezes. A desidratação pode se manifestar por meio de sinais como olhos fundos, pouca urina e pequena quantidade de lágrima e saliva.

A diarréia tem como causas vírus, bactérias e parasitas. Esses agentes contaminam a água, os alimentos e o solo. A doença aparece, principalmente, nos meses mais quentes e, em geral, afeta as pessoas que vivem em condições sanitárias mais precárias. As regiões Norte e Nordeste apresentam os casos mais graves. O calor deteriora os alimentos com mais rapidez e faz também com que a população consuma maior quantidade de água. A falta de abastecimento regular nas localidades carentes força a comunidade a buscar o líquido em locais inadequados, como córregos e rios, que podem estar poluídos.

A ausência de condições de higiene – como lavar as mãos antes de comer e de preparar os alimentos, antes e depois de lidar com o bebê ou depois de usar o banheiro – também favorece o aparecimento da diarréia, que se manifesta mais intensamente em crianças mais novas e desnutridas.

“Na década de 90, muitas pessoas passaram a usar o soro oral, o que contribuiu para uma redução cada vez maior no número de internações por desidratação. Neste ano, o Ministério da Saúde irá incentivar o uso do soro oral por meio da conscientização de profissionais de saúde e da população”, diz a coordenadora da Saúde da Criança, Ana Cecília Sucupira.

O ministério elabora uma programação especial que será transmitida pelo Canal Saúde da Fiocruz. Em março, técnicos participarão de programas de debates, entrevistas e teleconferência para divulgar esses e outros cuidados que pais devem ter para evitar a diarréia e a desidratação.

Rotavírus – Outra medida fundamental tomada pelo governo para diminuir a incidência da diarréia no Brasil foi a introdução da dose contra o rotavírus na carteira de vacinação das crianças. O agente é responsável por cerca de 30% dos casos mais graves de desidratação. Ele causa gastroenterite grave, doença que provoca evacuações e vômitos intensos. Em média, 70 mil crianças com menos de 5 anos são hospitalizadas e cerca de mil morrem, todos os anos, infectadas pelo rotavírus.
“O impacto epidemiológico da vacina será enorme, com a redução de cerca de 42% dos casos de diarréias graves”, avalia a coordenadora da Saúde da Criança do Ministério da Saúde, Ana Cecília Sucupira. Ela afirma que a vacina estará disponível regularmente nos postos de saúde da rede pública e será oferecida rotineiramente. O Ministério da Saúde já providenciou a compra de 8 milhões de doses, ao preço unitário de US$ 7. “O investimento é pequeno, comparado aos enormes benefícios que trará para a população”, diz Ana Cecília Sucupira.

Mamadeira – A diarréia é uma infecção autolimitada, ou seja, um organismo adulto e bem nutrido consegue combatê-la sem dificuldades. Entretanto, quando a criança é muito pequena ou desnutrida, o risco de haver desidratação grave é muito maior, o que pode levar à morte, se não houver atendimento adequado e precoce.

Por isso os médicos recomendam que as crianças sejam alimentadas somente no peito, até pelo menos os seis primeiros meses de idade. A prevenção de diarréias é um dos benefícios da amamentação do bebê. “Muitas vezes, a manipulação inadequada das mamadeiras, a permanência prolongada do conteúdo fora da refrigeração e a utilização de água contaminada no preparo do leite industrializado podem causar diarréia nas crianças”, explica Ana Cecília Sucupira. Crianças que usam mamadeira têm um risco 20 vezes maior de ter diarréia do que as alimentadas no peito.

Tira dúvidas sobre diarréia e desidratação

O que fazer quando a criança tem diarréia?
É preciso compensar as perdas de líquidos para evitar a desidratação. Por isso, ofereça o peito mais vezes e aumente a oferta de líquidos, como chás, sucos e água. Não suspenda a alimentação. A criança tem de receber a sua dieta habitual. Como a tendência é que a doença diminua o apetite, é importante oferecer alimentos com maior quantidade de líquidos, como sopas, mingaus e frutas. Jamais dê remédios à criança por conta própria, sem consultar o médico. Importante lembrar: soro caseiro não é remédio e deve ser utilizado sempre que necessário.

Quando usar o soro de reidratação oral?
O soro oral é muito importante para evitar a desidratação, principal causa de morte na diarréia. Assim, todas as vezes que a criança evacuar ou vomitar ela deve receber o soro oral, em pequenas quantidades. É importante preparar corretamente o soro oral, de acordo com as instruções no envelope distribuído pelo serviço de saúde.

Como preparar o soro?
Colocar em 1 litro de água tratada todo o pó de 1 envelope de sais de reidratação e mexer bem. Não ponha açúcar nem sal no soro e não ferva o soro depois de pronto. Conservar o soro por apenas 24 horas. Depois disso, jogar fora o que sobrou e preparar novo litro do líquido.

Como saber que a criança está desidratada?
Na desidratação, a criança fica com os olhos fundos, a pele seca, a boca com pouca saliva, pouca lágrima, urina pouco e tem mais sede.

Se a criança tiver desidratação, deve-se procurar um pronto-socorro?
Não há necessidade de procurar o pronto-socorro se a criança estiver com diarréia. Ela pode melhorar apenas com o soro oral. As unidades básicas de saúde estão preparadas para atender os casos de diarréia e de desidratação. A família deve procurar uma unidade básica de saúde (ou hospital), onde já faz acompanhamento, para avaliação da criança quando:

– a diarréia for muito intensa (sete ou oito evacuações em um dia, de consistência líquida);
– a criança vomitar todas as vezes que toma líquidos ou o soro oral;
– há presença de sangue nas fezes;
– a criança tem febre (indica infecção bacteriana);
– se mesmo tomando o soro, a criança continua com sinais de desidratação.

Como faço para vacinar meu filho contra o rotavírus?
A partir de março de 2006, o Ministério da Saúde vai fornecer para as unidades básicas de saúde a vacina contra o rotavírus, um dos principais agentes causadores da diarréia. Essa vacina fará parte do esquema de vacina do bebê, por isso não perca as datas de vacinação que estão na Caderneta de Saúde da Criança. A primeira dose tem de ser administrada antes do sexto mês da criança – pesquisas mostram que o rotavírus atinge mais vítimas a partir dessa idade.

Quais cuidados deve-se ter com a água?
As casas que não recebem água do sistema público, ou seja, utilizam fontes alternativas, como poços ou cisternas, devem ferver a água ou colocar o hipoclorito de sódio a 2,5% (fornecido pelos postos de saúde), antes de consumi-la. Para cada litro de água, põem-se duas gostas de hipoclorito. É preciso esperar 30 minutos, antes de usar a água para beber, cozinhar ou lavar pratos, talheres e copos. Para um balde de 20 litros, utiliza-se uma colher de chá de hipoclorito e deve-se aguardar 30 minutos para poder beber.

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