Novos tratamentos melhoram os resultados da fertilização in vitro

A reprodução assistida continua evoluindo para tornar o sonho do casal uma realidade

Mesmo após muitos anos do nascimento do primeiro bebê de fertilização in vitro (Louise Brown, em 1978) os resultados dos tratamentos de reprodução humana ainda não são considerados ideais, apesar da melhora expressiva dos resultados ano a ano.

Dois grandes obstáculos são julgados relevantes para um resultado positivo. A primeira limitação é uma elevada incidência de alterações cromossômicas nos oócitos (óvulos) e embriões (aneuploidias) antes da implantação e que muitas vezes pode ser identificada pelo diagnóstico pré-implantacional.

O segundo obstáculo são as alterações do endométrio (tecido que reveste internamente o útero) que, mesmo em condições ideais e em embriões normais, impedem a implantação ou desenvolvimento do embrião na cavidade uterina.

Monitor mostrando o espermatozoide sendo injetado no citoplasma do óvulo (ICSI) - Foto: Monkey Business Images/Shutterstock.com

Assim, marcadores endometriais que possam determinar a receptividade endometrial (janela de implantação) e a dificuldade de implantação embrionária em certas pacientes têm sido estudados.

O novo exame Aromatase P 450, é um marcador que pode, junto a outros exames, esclarecer falhas de implantação. Trata-se de uma enzima (estrogen syntetase) que converte androgênio em estrogênio e está presente em tecidos de ovários, pele, gordura e cérebro, entre outros, em situações patológicas, como câncer de mama ou endometriose. No endométrio a aromatese pode também estar aumentada nos casos de mioma, endometriose e adenomiose.

Melatonina

A melatonina é um hormônio produzido no sistema nervoso central pela glândula pineal, situada no cérebro, que ajuda a controlar o ciclo natural de horas de sono e de vigília e, por isso, é conhecida como “o hormônio do sono”, regulando os ciclos circadianos (dormir-acordar).

Já é documentado que a melatonina é um excelente antioxidante natural e que, a partir dos 30, 40 anos poderá prevenir – ou pelo menos retardar – doenças relacionadas com o envelhecimento, radicais livres e processos inflamatórios. Além de ter ação antioxidante, também regula a função ovariana através da regulação da liberação de gonadotrofinas.

Hormônios sexuais têm um importante papel no crescimento e diferenciação de células ovarianas e a melatonina influencia em sua produção – progesterona, estradiol e androstenediona – em diferentes estágios da maturação folicular, podendo diminuir ou aumentar suas concentrações.

Já a falta de melatonina está relacionada à endometriose e à Falência Ovariana Prematura (FOP). Em pacientes com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) há diminuição de melatonina no fluido folicular. O tratamento com melatonina melhora a qualidade do oócito além de beneficiar as taxas de fertilização e reduzir os danos oxidativos no fluido folicular.

Entretanto, o uso de melatonina para pacientes com SOP, FOP e endometriose é limitado. Em adultos, é administrada em doses 0,2-20,0 mg , com base na razão para o seu uso. A dose certa varia muito de uma pessoa para outra, mas a média é de 3 mg.

Inositol

Outra novidade recém-lançada na Itália é o Inofolic que além de melhorar as desordens metabólicas e hormonais, regula o ciclo menstrual e, por isso, também beneficia a fertilidade. É indicado principalmente a mulheres com a Síndrome dos Ovários Policísticos.

Sua composição consiste na combinação de ácido fólico com mio-inositol, um isômero do inositol, substância que é mediadora de vários processos celulares, com efeitos positivos no metabolismo das mulheres.

Novos estudos têm demonstrado que a qualidade dos óvulos e dos embriões depende não só da formação genética e cromossômica, mas também do ambiente onde os óvulos se desenvolvem (fluido folicular que envolve os oócitos antes da ovulação). Muitas vezes, esse ambiente pode ter variações importantes e o Inositol faz parte dele. Dados da literatura médica demonstram que a presença de altos níveis de mio-inositol no fluído folicular está relacionada com uma boa qualidade dos óvulos e sua inclusão nos tratamentos melhoram a divisão celular e os resultados de gravidez.

Mulheres com SOP costumam ter deficiência da enzima que produz o inositol no corpo. Assim, nesse grupo, a suplementação de mio-inositol apresenta os melhores resultados, tanto na regulação do ciclo menstrual (normalmente alterado nas mulheres com esta síndrome) como na fertilidade.

Embora este medicamento não esteja disponível nas drogarias brasileiras, ele poderá ser manipulado em farmácias de manipulação com receituário médico ou comprado pela internet proveniente de outros países. Nos Estados Unidos é vendido como Mio–Inusitol e pode ser associado em separado com o ácido fólico.

O IPGO, do qual faço parte, está prescrevendo o medicamento às pacientes, assim como também já realiza os dois testes citados acima. E todas essas novidades chegam como alternativas que poderão beneficiar, em especial, casais que não foram bem-sucedidos em suas tentativas de engravidar.

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Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi

Ginecologista Obstetra especialista em Reprodução Humana e Cirurgia Endoscópica Além de dedicar a maior parte de seu tempo ao conhecimento...

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