Parto normal e parto cesárea: caminhos para nascer

Feliz a beça

Antes de tudo, muito obrigada! Foram quase cem e-mails com sugestões (ótimas, por sinal), troca de experiências e elogios à nossa primeira coluna VIDA DE MÃE. Todos que me procuraram através do GUIA DO BEBÊ estão sendo respondidos em seu e-mail pessoal, caso a caso, com carinho e, na medida do possível, com as respostas as dúvidas e ansiedades. Estou feliz a beça com a reposta, via site, ao bate-papo sobre a evolução das nossas barrigas, o crescimento dos nossos filhos, somado aos nossos amores, profissão, beleza, auto-estima… Enfim, nós! E sobre nosso dia pós dia, cheio de confusão, irritação, alegria e, claro, amor (porque ninguém é de ferro e amar é uma das principais características da mãe).

Ficamos algum tempo apenas com a primeira matéria no ar por motivos pessoais da colunista, mas o ritmo está devidamente compassado a partir desse nosso segundo encontro. Como o tempo passou não posso deixar de mostrar para vocês o bebê que – dentro da barriga da mamãe, Rosa Maria Macarroni Abbade – ilustrou a matéria Terceiro Trimestre Tranqüilo, em outubro.

Marie Louise, a mamãe Rosa Maria e o papai Dimas, na sala de parto

Marie Louise nasceu dia 20 de outubro de 2006, com 3.500kg e 51cm. Só se alimenta de leite materno. Segundo a mamãe coruja, ela é esperta, risonha e simpática e a família está babando. Rosa (aqui vale a errata porque seu nome foi publicado como “Rita” na matéria, desculpe-nos) voltou a trabalhar em sua creche-escola vinte dias após o parto e conquistou o peso ideal em 30 dias.

Quer ver mais fotinhas da Marie Louise? Clique aqui.

Parto Normal e Cesárea: Caminhos para nascer

“Como será o seu parto?” Toda grávida tem que responder a esta pergunta seja dos parentes, dos amigos, e do/a obstetra (que, muitas vezes, toma com ela a decisão). Existem diversos tipos de parto: de cócoras, na água, etc. Mas, no dia-a-dia, dois tipos de parto dividem a atenção da gestante: o normal e a cesárea.

Dr. César Miranda, obstetra, médico do Ministério da Saúde, e parteiro, adverte que a desinformação é a maior causa de uma escolha errada com relação ao tipo de parto. A ela se alia a mudança de perfil da mãe nas últimas décadas. “Nos anos 70, a mulher era apenas mãe e dona de casa. Hoje os objetivos são outros. Ser mãe não é mais a prioridade e muitas mulheres engravidam tarde, depois de se estabilizarem na profissão. Essas mulheres, mais práticas, se afastam do parto normal, que é artesanal. Preferem a cesárea porque são mais velhas ou por medo da dor”, diz o médico. Apesar dessa observação, cresce o número de mulheres que preferem a naturalidade do parto normal, assim como os movimentos de resgate a este tipo de parto. Estas, seguem a bandeira de que o parto é da mulher, e que se torna um procedimento médico, apenas quando realmente necessário.

Parto Normal: por que não?

“Fisiologicamente a anatomicamente todas as mulheres estão preparadas para o parto normal”, diz Dr. César. Nele o feto é expulso através de contrações pela mãe. No momento do nascimento, a cabeça do bebê chega ao canal vaginal e pressiona o períneo. Quando necessário, o médico faz uma episiotomia (corte na passagem vaginal). A mãe que prefere o parto normal se recupera rapidamente e os pontos caem sozinhos. Isso sem falar que a ligação entre mãe e bebê é muito maior. O recém-nascido pode amamentar já na sala de parto. A mãe não sente as dores do corte no abdômen, como acontece na cesárea. No parto normal não há cicatriz aparente. A recuperação pós-parto é quase imediata. A dor no períneo é a desvantagem desse tipo de parto.

Quando a cesárea é a solução.

Muitas vezes ela é necessária para o sucesso de nove meses de espera e a única solução para salvar a vida da mãe e do bebê. A vantagem da cesárea é a possibilidade de retirar o feto no momento certo, com rapidez, quando existem dificuldades para o nascimento pelas vias normais, em casos de hipertensão, pré-eclampsia, diabetes gestacional, insuficiência placentária, problemas do coração e rim.

A grande crítica é que ela é excessivamente usada, em alguns casos, sem necessidade, porque o tempo de espera até o nascimento é menor (um parto normal pode durar até 10 horas, enquanto a cesárea dura, em média, 40 minutos). A falta de informação também leva a mãe a acreditar que é um parto indolor, mas a recuperação é mais lenta e dolorosa que o parto normal. Os pontos não caem sozinhos (precisam ser removidos no consultório do ginecologista), há risco de infecção e os recém-nascidos podem ter problemas respiratórios. Além disso, apresenta de 7 a 20 vezes mais chance de infecções e complicações para a mãe, que o parto normal.

Dois pontos de vista

Vânia

A estudante de enfermagem Vânia Cristina Pereira, de 32 anos, está no terceiro trimestre de gestação, mas já mãe de Lyncon, de 10 anos, e Guilherme, de 7. A espera é por mais um menino, que se chamará Felipe. “As minhas experiências se repetiram nas três gestações. Tanto as boas quanto as ruins. Todas foram tranqüilas, mas enjoei muito. Nas duas primeiras passei mal até o quarto mês. Nesta foi muito pior, consegui a façanha de ficar enjoada durante toda a gravidez. Não consegui comer nada, por isso só engordei 10 kg”, conta.

O primeiro filho, Lyncon, nasceu de parto normal e o segundo, Guilherme, de parto de cesariana. “O mais velho nasceu com 2,900Kg. Com esse peso, não tive problemas com o parto normal. Com Guilherme tentamos o parto normal das 4 às 11 horas da manhã, mas não teve jeito. Ele já estava muito grande, com 4,200 kg, e optamos pela cesárea”, conta a mãe. Dois momentos e dois lados da moeda, por isso a chegada de Felipe já está programada: “Faremos uma cesárea. Prefiro assim, para não sofrer. Dizem que o parto normal é normal, mas eu discordo. É natural, mas é difícil. É bonito, mas a gente sofre muito. É um processo difícil e eu não gostei da experiência. Estou cansada, sem empregada, cuidando da casa… Enfim, o meu estresse já está no auge, não agüentaria o esforço do parto normal porque dói. É uma dor do outro mundo!” Mesmo com o desabafo, Vânia, que se forma enfermeira ainda este ano, faz questão de dizer que não é contra o Parto Normal: “Indico, mas a gestante tem que estar preparada. Tem que partir de dentro dela”.

A terceira gravidez do casal Vânia e Evandro deixou a família radiante. “Não vejo a hora de ver se ele será cabeludinho ou se terá os olhos verdes do pai. Estou muito feliz e ansiosa também”, diz a mamãe. Os irmãos mais velhos também estão adorando a novidade. “Vem mais um para me chatear…Guilherme até hoje sai da cama dele e vem para a minha. Brincadeira, eu também estou feliz”, comenta Lyncon que jura que não teve ciúmes quando Guilherme nasceu: “Eu só tinha dois anos quando ele chegou!” Já Guilherme… “Eu, ciúmes do Felipe, eu não!”, diz. Em seguida, a gargalhada da família desmente o ex-caçula.

Márcia

A mãe de Luccas, de 8 anos, e Giovana, de 3, Márcia, defende o parto normal. “Desejei desde que eu engravidei. Na primeira gestação fiz alguns exercícios de yoga, um pouco de meditação e segui dicas para abrir o períneo (como sentar em banco baixo, por exemplo). Fui conhecendo e trabalhando o meu corpo. Tudo visando me preparar para o parto normal”, diz. Márcia admite que não é um processo fácil, mas a natureza conspira a favor: “O bebê também quer nascer! Vale a pena esperar ele dizer: “É hoje!” E saber que a criança está preparada, pronta. Para isso é preciso estar em contato com o corpo e o bebê. O parto normal é como se de repente você se transformasse num bicho. É muito intenso. O bebê faz os movimentos dele e a mãe tem que estar atenta a eles para ajudá-lo”. Medo e dor do parto são comuns à maioria das mães. “Mas não é uma dor de quem quebra a perna, por exemplo. É uma dor para o bem, para uma coisa boa. Na hora você tem que ir com a dor. Dói, mas eu faria tudo de novo”, defende. Luccas nasceu com 3650Kg e 52cm e Giovana com 3540Kg e 51cm. “Meu filho mamou na sala de parto. De cara pegou o peito. Já Giovana fez xixi e coco em mim”.

Segundo Márcia, os únicos desconfortos do pós-parto são os pontos que ficam doloridos e, como o períneo perde um pouco da elasticidade, tem-se a sensação de que não há mais sensibilidade nesta área. “No primeiro mês parecia que eu estava “mais larga”. Mas para o meu marido eu estava normal, como antes. Fiquei um pouco seca também e tive que usar gel. Fiz exercícios de períneo (por exemplo, soltar e prender a urina). Mas o mal estar durou pouco tempo. Tudo voltou ao normal”.

Estatística

O Brasil é um dos líderes em cesarianas no mundo. O índice recomendado pela Organização Mundial de Saúde é de até 15% de cesáreas do total de partos. Dados da Agência Nacional de Saúde, de 2006, mostram que em 79% dos nossos hospitais privados a opção é pela cesariana. Nos hospitais públicos, a média é de 28% (22% no Norte e Nordeste, 32% no Sudeste, Sul e Centro-Oeste).

Que venham com saúde!

Nossos filhos podem nascer de forma natural ou por intervenção cirúrgica, mas ainda vale o que diziam nossas avós: “Que venham com saúde!” Desejo antigo que simplifica tudo. Cada uma de nós se encontra num cenário diferente durante a gestação e este cenário pode mudar, inclusive, na hora do parto. Portanto, seja qual for a sua decisão quanto ao parto, assuma. Antes, porém, se está com saúde e o bebê também, não opte por uma cirurgia apenas por medo ou, pior, comodismo. Leia sobre as vantagens e desvantagens de cada parto, converse com médicos, terapeutas e tome a própria decisão. A experiência das outras mães, muitas vezes, não é a sua. Por outro lado, se a cesárea for necessária ou se você fica mais segura, relaxe. Mas os médicos sabem e as mães têm que ficar atentas: a cesárea deve ser indicada com responsabilidade. O importante é a realização nesse momento tão especial.

Crédito das fotos

Rosa Maria e Marie Louise / arquivo pessoal
Vânia, Lyncon e Guilherme / Denise Domingos
Márcia, Luccas e Giovana / Jaqueline Machado

Obrigada à fotógrafa Jaqueline Machado que, gentilmente, fotografou a mãe Márcia com os filhos para a coluna.

Após a publicação deste texto

Recebi alguns e-mails sobre a coluna que enfocou o parto, chamada: “Parto Normal e Cesárea: caminhos para nascer”. A crítica, justa, lembra que não existem só estes dois tipos de partos – já que o parto normal incluiu outras maneiras de nascer, como o parto de cócoras, por exemplo, e que a cesárea é apenas uma intervenção cirúrgica. Reproduzo aqui uma das repostas que enviei por e-mail. Se a dúvida surgiu, outras mães também podem tê-la.

“Vida de Mãe não é um ponto final; é troca. Sabemos que existem outros tipos de caminhos para chegarmos até aqui. No www.guiadobebe.com.br encontramos especialistas falando sobre este assunto e esclarecendo sobre todos os tipos de partos. A coluna Vida de Mãe parte das histórias das mães e, a partir dessas histórias, procura um especialista que esclareça o assunto. Se as duas mães contassem suas experiências sobre o parto de cócoras e n´ água, por exemplo, estes seriam o foco do texto. O título damatéria é:”caminhos para nascer” e não “os únicos caminhos para nascer”.Olegal da coluna é a identificação entre as mulheres porque as histórias são verdadeiras e possíveis de acontecer com qualquer uma de nós.Vamos produzir um “Caminhos para nascer dois”, paraque as mães não pensem quedesconhecemos ou não divulgamos outros tipos de parto. Na coluna quem dá o tom e a direção são as históriascontadas pelas mulheres – as mães”.

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