Mortalidade de prematuros diminuiu com avanços da medicina neonatal

Novos tratamentos ampliaram as chances de sobrevivência nas últimas décadas, mas ainda é preciso dar atenção à prevenção da prematuridade

A mortalidade infantil tem diminuído progressivamente no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o óbito de crianças com menos de um ano caiu 68,3% entre 1990 e 2012. Parte dessa redução pode ser atribuída aos grandes avanços das últimas décadas no cuidado com o bebê prematuro – um fator determinante, considerando que o nascimento antes da hora é a principal causa de morte no primeiro ano de vida.
“O desenvolvimento da medicina neonatal e das terapias de suporte nessa área proporcionou a diminuição da mortalidade de bebês que nascem muito abaixo do peso”, pontua a pediatra Desirée Volkmer, chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, RS. De acordo com a especialista, o surgimento de novos tratamentos e técnicas de oxigenação foram ganhos importantes para aumentar as chances de sobrevivência dessas crianças.
Desafios da prematuridade
O nascimento antes da 37ª semana de gestação é considerado prematuro – e quanto mais precoce for o parto, maior é o desafio do cuidado com o bebê. Como os pulmões são os últimos órgãos a “amadurecerem” no útero da mãe, é muito comum que a criança tenha a chamada Síndrome do Desconforto Respiratório. “A doença ocorre devido à deficiência de surfactante pulmonar, uma lipoproteína importante para garantir a expansão adequada dos pulmões”, explica Desirée.
Essa condição era muito mais preocupante até a década de 90, quando tornou-se possível administrar surfactantes pulmonares ao bebê, até que seu organismo conseguisse produzir a substância sozinho. Hoje, essa classe de medicamento conta com duas opções de tratamento: o alfaporactanto e o beractanto. “Na mesma época, também teve início a terapia com corticoides em gestantes com riscos de parto prematuro. O medicamento induz a produção de surfactantes na criança, acelerando a maturação dos pulmões e outros tecidos fetais”, diz a pediatra.
Mortalidade de prematuros diminuiu com avanços da medicina neonatal - Foto: Ospedale Pediatrico Bambino Gesù
Aliadas às técnicas de ventilação não invasivas, usadas desde a década de 1970, essas terapias trouxeram mais chance de sobrevivência e qualidade de vida a crianças nascidas prematuras. “Hoje, no nosso serviço, consideramos que é possível tratar bebês a partir de 23 semanas de idade gestacional”, conta Desirée.
A recuperação do bebê também ganha quanto mais humanizado e multidisciplinar for o cuidado. “A presença dos pais ao lado da criança traz grandes melhoras na resposta ao tratamento”, diz a médica. Além disso, também é importante garantir apoio psicológico aos pais, já que o ambiente da UTI é estressante. Dessa forma, é possível incentivar o vínculo entre os pais e o bebê, fortalecendo a família para a tão sonhada alta hospitalar.
Prevenção é o caminho
Embora o cuidado neonatal tenha avançado nos últimos anos, ainda é preciso investir na prevenção da prematuridade. “Dados da OMS apontam que o Brasil é o décimo país onde mais nascem bebês prematuros no mundo”, afirma Denise Suguitani, diretora executiva da Associação Brasileira de Pais, Familiares e Cuidadores de Prematuros (ONG prematuridade.com). Além de levar informação e apoio online às famílias, a organização trabalha com campanhas de sensibilização e de prevenção do parto prematuro, com projetos de educação permanente para profissionais de UTI neonatal, atuando também na área de políticas públicas.
Na prática, quanto mais informação e acompanhamento médico a mulher buscar antes e durante a gravidez, maiores serão as chances de uma gestação saudável. “Fatores como pressão alta, diabetes, distúrbios da tireoide, infecções, idade materna e uso de drogas e bebidas alcoólicas são alguns dos fatores de risco para o parto prematuro”, elenca Desiree. “Para garantir a saúde materna e do bebê, é importante incentivar a mulher a fazer o pré-natal até o final da gravidez. Além disso, é essencial promover a orientação e o acompanhamento médico de gestantes adolescentes”, finaliza Denise.

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