Menstruação irregular

Preservação da fertilidade feminina: menstruação irregular é sinal de desequilíbrio na produção de hormônios

Durante toda a fase reprodutiva feminina, o intervalo, a duração e a intensidade do fluxo menstrual sofrem pequenas variações – acentuadas por fatores como estresse, por exemplo – mas na maioria do tempo se mantêm os mesmos. A menstruação só costuma ser bruscamente alterada em duas situações especiais. “A primeira, nos dois ou três anos posteriores à menarca, quando há momentos de irregularidade. Já a outra interrupção se dá no período de gravidez, durante os nove meses”, afirma o ginecologista Joji Ueno, diretor da Clínica Gera.

Fora isso, qualquer falha nessa engrenagem não deve ser considerada normal e, é preciso passar por uma cuidadosa investigação clínica. “O ciclo menstrual é o espelho da produção dos hormônios sexuais femininos. Portanto, uma irregularidade acentuada e constante do fluxo pode refletir defeitos no processo de ovulação”, alerta o médico.

Estima-se que 15% dos casos de infertilidade estejam relacionados ao desequilíbrio hormonal. Mas não é só por causa da possível dificuldade de engravidar que este problema deve ser analisado. Alterações na freqüência da menstruação também costumam indicar a presença de tumores no ovário ou de miomas no útero, por exemplo. “Nestes casos são necessários procedimentos cirúrgicos para fazer tudo voltar ao normal e evitar outras complicações”, diz Joji Ueno, que também é Professor Doutor em Ginecologia – Medicina Reprodutiva, pela Faculdade de Medicina da USP.

Diagnosticando o problema

Na maioria dos casos envolvendo sangramento ou atrasos freqüentes no ciclo menstrual, porém, o que se observa é uma falha do próprio organismo na produção de algum tipo de hormônio sexual. Uma avaliação clínica do ginecologista é suficiente para identificar a falta ou o excesso deles, mas, eventualmente, também é solicitado um exame de dosagem hormonal para descartar a presença de tumores e cistos, que também costumam causar problemas no fluxo.

Independentemente da causa, no entanto, o tratamento sempre é recomendado. O problema mais comum entre as mulheres é haver escassez da progesterona, o que poderia impedir a concretização de uma gravidez desejada. “Essa falta de hormônio também aumenta muito os riscos de câncer no útero”, diz Joji Ueno. Ele explica que sem este hormônio em quantidade suficiente há um acúmulo de estrogênio, o que comprovadamente ampliaria as chances de aparecimento de tumores. Por sua vez, esse excesso hormonal também prejudica bastante as mulheres obesas. Segundo o médico, enzimas presentes na gordura são capazes de aumentar bastante a produção estrogênica.

Tão maléfica quanto a sobra de estrogênio é a sua falta. Embora seja uma situação mais rara em se tratando da fase reprodutiva, a redução desse hormônio é capaz de culminar em uma menopausa precoce. “Com o tempo, caso nada seja feito, as vítimas do problema ainda poderão desenvolver osteoporose, colesterol alto, além de doenças cardíacas”, alerta o diretor da Clínica Gera.

Finalmente, existe ainda outro inconveniente hormonal para as mulheres. Durante os dias férteis do ciclo, normalmente, ocorre uma produção pequena de andrógenos (hormônios masculinos, entre eles a testosterona), cuja função principal é o aumento da libido. “Em algumas, no entanto, essa quantidade aparece acima do normal, causando grande oleosidade na pele, espinhas, um excesso de pêlos e inchaços”, afirma Joji Ueno.

Opções terapêuticas

Como existem diversos desajustes hormonais, os tratamentos disponíveis também variam e, acima de tudo, precisam ser personalizados. No geral, os especialistas recomendam a ingestão diária de comprimidos para regular o fluxo menstrual. Mas a medicação deverá levar em conta principalmente o tipo de falha hormonal e até mesmo os objetivos de vida de cada paciente. “Uma mulher com falta de progesterona, por exemplo, que deseja engravidar, pode optar por uma pílula progestagênica que estimule a produção apenas desse tipo de hormônios. Já aquela que não pensa em ter filhos tão cedo, por sua vez, usaria uma pílula anticoncepcional comum capaz de regular o ciclo e, ao mesmo tempo, evitar a gravidez”, afirma Joji Ueno.

Hoje, não faltam às mulheres opções terapêuticas para manter o equilíbrio hormonal. As alternativas são as mesmas oferecidas para as que entram na menopausa. São medicamentos naturais (constituídos por moléculas idênticas às produzidas pelo organismo feminino) e não naturais (produzidos com moléculas que não existem no corpo) que ajudam a equilibrar qualquer falha na produção de hormônios. “Cabe ao médico, no entanto, discutir com a paciente a melhor forma de tratá-la”, afirma o especialista em Reprodução Humana.

Pílula anticoncepcional

O remédio interrompe o ciclo natural e produz um outro, artificial. A maioria dos medicamentos dessa categoria mantém a mesma quantidade de hormônios do primeiro ao último dia do ciclo. É por isso que as mulheres que sofrem com tensão pré-menstrual se beneficiam muito com a pílula. Os ovários deixam de produzir hormônios e o endométrio vai ficando cada vez mais fino. As pacientes que tomam os comprimidos por muito tempo, quando decidem parar, demoram para voltar a menstruar. É indicada para quem tem uma vida sexual ativa e também precisa corrigir o desequilíbrio hormonal.

Progesterona isolada

Geralmente é utilizada para estimular apenas a produção desse hormônio da gravidez e, conseqüentemente, proteger o endométrio. Várias mulheres acabam se beneficiando com o uso dos progestagênios: tanto aquelas que desejam ter filhos quanto as que precisam apenas regular o fluxo menstrual, ou, ainda, as pacientes predispostas geneticamente ao aparecimento de tumores uterinos.

Estrogênio isolado

Diante das pesquisas que comprovam que o excesso desse hormônio pode aumentar o risco de câncer, este tipo de reposição só é recomendado para pacientes que já entraram na fase da menopausa, após avaliação médica. Até porque, como pequenas quantidades de estrogênio são produzidas, além do ovário, pelo tecido adiposo, as mulheres em fase reprodutiva nunca vão apresentar uma falta muito grande desse hormônio. A opção para as adolescentes que possuem uma falha hormonal como essa, portanto, seria o uso da pílula, que repõe estrogênio e progesterona.

Testosterona

Em sua versão isolada também é mais indicada na menopausa e, mais especificamente, para mulheres com acentuada queda da libido. Neste caso, os especialistas recomendam a forma injetável ou também o implante no lugar dos comprimidos, uma vez que pela via oral o suco gástrico acaba interferindo na absorção da substância pelo organismo. Para as mulheres que ainda menstruam, mas sofrem com a acne e o excesso de pêlos, por exemplo, a melhor alternativa seria a utilização de remédios de atuação local – que não interferem na produção da substância, mas impedem os seus efeitos na pele.

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