Hora de Dormir: O Sono – parte 16

Acontece durante o sono. Já aconteceu com você?

Algumas situações são muito comuns. Outras nem tanto.

Mas quando você acha que tudo já está sob controle…

SURPRESA!!!!

Seu filho acorda à noite, ou fala, ou anda, ou grita…

Vamos conhecer um pouco sobre essas parassonias?

Na verdade elas são mais comuns do que se pensa.

Criança se cobrindo de medo - Foto: Juriah Mosin/Shutterstock.com

ELE SONHA DORMINDO

Vocês foram a uma festa, se divertiram muito, chegaram em casa às 3 da madrugada e desmaiaram de sono.

De repente, vocês escutam gritos desesperados de seu filho e correm ao quarto dele para ver o que está acontecendo.

Vocês chegam perto da cama dele e verificam que ele está dormindo, olhos mexendo rapidamente, transpirando.

Ele está gritando, palavras inteligíveis mas desconexas.

Vocês tentam acordá-lo e ele desperta assustado e conta que estava sonhando, lembrando, inclusive de alguns detalhes deste “sonho”.

Seu filho teve um pesadelo.

Os pesadelos consistem em sonhos com conteúdo emocional ocorrendo com aumento da frequência cardíaca e respiratória, sudorese, sendo finalizado geralmente com um despertar e lembrança do que sonhou.

Não é rara a queixa de dificuldade para retornar a dormir devido ao medo de sonhar novamente.

Este é um quadro mais comum em crianças. Há dados indicando que 20 a 30 % das crianças entre 5 a 12 anos de idade têm um pesadelo a cada 6 meses.

Os pesadelos podem ocorrer na mesma noite em que a criança apresenta terror noturno ou episódio de sonambulismo.

Crianças que apresentam Transtorno de Pesadelo normalmente despertam fácil e completamente, relatam os sonhos como estórias acompanhando os episódios que costumam ocorrer mais tarde, no decorrer da noite, durante a fase de sono REM (Rapid Eye Moving ou fase do sono com Movimento Rápido dos Olhos), que corresponde à fase dos sonhos.

O padrão de excitação autonômica (suor, taquicardia, tremor, etc.) e de atividade motora (agitação) não é tão marcante quanto no Transtorno de Terror Noturno e a recordação é mais completa.

Não há problemas em acordar alguém com pesadelos.

ELE FALA DORMINDO

Falar dormindo não é um privilégio de idade. Tanto crianças como adultos podem fazê-lo.

Este quadro é chamado de sonilóquio (que é diferente de solilóquio que é falar sozinho). É um transtorno benigno do sono que se inicia mais tarde na infância, entre os 6 e 12 anos e que, às vezes, pode acompanhar terrores noturnos e sonambulismo.

Uma das características que a distinguem de outras alterações é que, conforme foi constatado em laboratórios, ela pode ocorrer em todos os estágios do sono.

O quadro geralmente se inicia entre 30 minutos e 3 horas após o adormecer e não corresponde a sonhos ou pesadelos. A criança chega a falar durante até 20 ou 30 minutos e a fala costuma envolver umas poucas palavras difíceis de distinguir.

Não há problemas em despertar a criança nestes momentos.

ELE ANDA DORMINDO

Vocês estão dormindo e, de repente, sentem uma presença estranha no quarto, ao lado de sua cama.

Vocês acordam sobressaltados e veem seu filho, com a roupa da escola, andando pelo seu quarto.

Vocês chamam, ele não responde e continua andando pelo quarto.

O sonambulismo é muito mais comum do que se imagina.

Este quadro, que costuma ter início entre os 6 e os 12 anos de idade, mas pode ser visto em adolescentes e adultos, tem cerca de 80% dos casos com história familiar de terror noturno ou sonambulismo. É comum nas crianças, com porcentagens de 15 a 30% de crianças saudáveis com história de pelo menos um episódio de sonambulismo, e 3 a 4% das crianças com história de episódios repetitivos. Nos adultos, é descrita prevalência de 1%, sendo raro após a sexta década de vida.

O episódio começa no primeiro terço da noite, podendo progredir, sem plena consciência ou posterior recordação do episódio, a ponto de o sonâmbulo levantar-se da cama, às vezes executar atos motores, caminhar, vestir-se, ir ao banheiro, conversar, gritar e até dirigir. Este comportamento pode terminar por um despertar com vários minutos de confusão ou, o que é mais comum, o indivíduo voltar a dormir sem qualquer lembrança do que acabou de acontecer, nem na hora e nem no dia seguinte.

Como a condição de sonambulismo pode ser perigosa com risco de acidente, outra pessoa que presencie o episódio deve acompanhá-la, sem procurar acordá-lo.

Predisposição familiar e fatores psicológicos (estresse) podem ser relacionados ao sonambulismo.

ELE GRITA DOMINDO

O relógio bate as 12 badaladas noturnas. Já é sexta-feira, 13 de agosto. Tudo parece calmo até que… um grito aterrorizante de socorro corta aquele silêncio.

Os pais correm para o quarto de seu filho único.

Os gritos desesperados continuam e a criança está agitada na cama, olhos arregalados, suando frio, quando os pais chegam ao quarto.

Eles tentam inutilmente acordá-lo. Percebem que o coraçãozinho de seu filho está muito, muito acelerado e ele está com uma expressão de horror.

Ele continua gritando, dizendo que vão pegá-lo e que ele não consegue mais escapar.

Já sem saber o que fazer, o pai tenta achar um número de telefone quando de repente… a criança se acalma, se deita e continua o resto da noite dormindo calmamente.

O que poderia, perfeitamente, ser um filme de horror e suspense de Alfred Hitchcock ou de Quentin Tarantino, nada mais é do que um quadro de terror noturno.

O Transtorno de Terror Noturno, que acomete 3% das crianças, geralmente meninos, começa aos 3 anos de idade, podendo durar até os 12 anos (com pico dos 5 aos 7 anos) e costuma resolver-se espontaneamente durante a adolescência. Em adultos, ele inicia entre 20 e 30 anos de idade e comumente segue um curso crônico, com a frequência e a gravidade dos episódios apresentando variação de intensidade ao longo do tempo.

A frequência dos episódios varia tanto para a pessoa quanto entre os indivíduos em geral e habitualmente ocorrem em intervalos de dias ou semanas, mas podem ocorrer em noites consecutivas e podem durar de 1 a 10 minutos, em média.

Diferente dos pesadelos, este quadro aparece na primeira fase do sono (1 a 2 horas após o adormecer), onde não há movimentos oculares rápidos (fase do sono não-REM), assim sendo, fora do período dos sonhos.

O quadro é diagnosticado pelas seguintes características:

  • Episódios repetitivos de despertar abrupto do sono, geralmente durante o primeiro terço do sono, começando com um grito de pânico;
  • Medo intenso e sinais de excitação autonômica, tais como taquicardia (frequência cardíaca podendo chegar a 160 batimentos por minuto), taquipneia (respiração muito rápida) e sudorese (transpiração excessiva) durante cada episódio;
  • Não-responsividade relativa aos esforços para confortar a pessoa durante o episódio (sendo quase impossível acordá-la);
  • O paciente lembra-se de um sonho não-detalhado e existe uma amnésia (esquecimento) do episódio (não se lembra de nada quando acorda no dia seguinte);
  • Os episódios causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
  • O distúrbio não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral.

Os indivíduos com Transtorno de Terror Noturno frequentemente relatam uma história familiar positiva de terror noturno ou sonambulismo. Alguns estudos indicam um aumento de dez vezes na prevalência do transtorno entre os parentes biológicos em primeiro grau.

As causas do terror noturno ainda são desconhecidas, com maior probabilidade de ser fisiológico e não psicológico. Ansiedade extrema, estresse e conflitos, conscientes ou subconscientes são fatores facilitadores. Em crianças, a precipitação de eventos traumáticos, febre e distúrbio emocional pode exibir um papel desencadeante. Adultos podem ter quadros semanais ou até diários. O distúrbio pode levar anos para desaparecer e o tratamento é mais difícil.

Um quadro intermediário entre o sonambulismo e o terror é conhecido como alerta ou despertar confusional, quando a criança exibe automatismos, porém está agitada. A criança pode chorar, chamar os pais, gritar por socorro, ficar sentada no próprio leito chutando os objetos ou correr pelo aposento. Normalmente não responde às tentativas dos pais de acalmá-la ou mostra ainda mais agitação em resposta a tais tentativas.

Pode existir certo grau de descarga autonômica, com taquicardia, taquipneia, sudorese e midríase (menina dos olhos dilatada).

Este quadro é encontrado em toda a infância, mas predomina nos três primeiros anos de vida. É relatado durante atendimento pediátrico de rotina em 3%a 5% das crianças.

Paralisias do sono, enurese noturna, bruxismo, estado confusional do despertar, alucinações hipnagógicas, apneia de sono estão entre os muitos outros problemas de sono que podemos ter desde crianças até a fase adulta.

Assim, mesmo parecendo que não é tão fácil, não se desespere. Dormir a noite toda ainda é possível. E cada vez mais, estamos nos aproximando desse momento. Podem ocorrer alguns transtornos como esses que comentamos aqui, por serem mais comuns e, nem sempre, precisarem de intervenção médica.

Na semana que vem, queria abordar toda essa situação de sono baseado em outras experiências. Tá. Falei, falei e não disse nada. Semana que vem a gente conversa. Até lá. Rsrs.

Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:

Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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