Hora de Dormir: O Sono – parte 15

Ainda tem mais? Diretamente do cinema para o Youtube e daí para vocês.

Hoje vamos pegar um pouco mais leve, com uma matéria repleta de links, vídeos. Mas quem sabe…

Não dá pra ser feliz sem dormir bem, não é mesmo? Já estamos na parte 15 desse drama, vocês ainda não dormiram (que bom… ou não) e ainda não passamos por todos os caminhos em busca da felicidade, ou do sono perfeito, ou da paz da noite, ou… chega. Tá, já me fiz entender, não é mesmo?

Ainda poderia falar sobre muitos livros, comentar muitas dicas, mas vou parar por aqui, com essa técnica que apareceu no youtube, se tornou viral, com mais de 1.500.000 views. Chamou a atenção de muita gente.

O nome do método vem de um mantra cantado pelo pai da criança para ajudar sua bebê a dormir. Oompa Loompa.

Oompa Loompa é como ficaram conhecidos os personagens que aparecem no filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, com duas versões bem conhecidas. Uma mais antiga(1971) com Willy Wonka, o “maluco” dono de uma fábrica maluca de chocolate interpretado por Gene Wilder e a mais recente(2005), com o papel principal sendo vivido por Jhonny Depp.

A música desses personagens é até bem interessante. Tem esse vídeo, com uma mensagem bem legal, que junta as canções para cada um dos quatro personagens infantis que vem com legendas em português. Vale a pena prestar atenção.

Mas não estamos aqui para falar sobre o filme e sim sobre o método. Então, vamos lá.

O método Oompa Loompa

Eloá, mãe de Emma, nascida em 20/11/2012 conta que ela “descobriu” e aplicou esse método por acaso, quando sua bebê tinha 3 semanas de vida. Por conta do sono de Emma ter sido um pouco conturbado, os pais chegaram a utilizar essa técnica com certa frequência, sempre com bons resultados.

A técnica

Além de poder ser acompanhada através do vídeo(com mais de 1.500.000 views, acreditem), a técnica é bem simples de ser executada (pelo menos, parece).

  1. Deve-se manter a cabeça do bebê bem firme entre as mãos para que não haja risco de nenhum acidente;
  2. Iniciar um leve vaivém da esquerda para a direita (balançar) constante;
  3. A repetição de um mantra (nesse caso: Oompa Loompa, Oompa Loompa, Oompa Loompa hô) no mesmo tom, até a criança estar em sono profundo.

Essa técnica teve o aval e a divulgação de um pediatra muito conhecido na Espanha (Adolfo Gómez Papí), adepto das práticas de aleitamento materno e membro do comitê de aleitamento materno da Associação Espanhola de pediatria e autor do livro El poder de las caricias: Crecer sin lágrimas.

Segundo ele, esse método encanta aos bebês por estarem protegidos e em movimento, assim como quando dormem ninadas, embaladas. E a divulgação do vídeo no facebook do médico foi mais um fator para sua propagação viral.

Minha opinião

Achei válido mostrar aqui esse vídeo (muito mais divulgado do que qualquer vídeo importante sobre aleitamento materno, por exemplo), para que se perceba como a propaganda é a alma do negócio e os riscos inerentes a aceitar tudo o que vem do Youtube ou do Google como verdades absolutas.

Pontos positivos:

  • É uma forma de estar com os bebês e ajudá-los a dormir, quando eles não dormem durante a mamada.
  • É uma forma de ninar um bebê, para que ele adormeça.
  • O mantra, ou uma canção de ninar, são práticas válidas para ajudar no adormecer de uma criança.

Pontos questionáveis:

  • Essa é uma técnica que pode ser usada para bebês pequenos, novinhos. Quando eles crescem, pesam mais, ela fica pouco prática. Aliás esse é um depoimento da própria Eloá, mãe de Emma:

    Mas quero dizer que já há algum tempo não usamos mais esse sistema com a Emma, senão múltiplas variações porque já pesa bastante. Seguimos movendo-a ao mesmo ritmo e cantarolando o mantra Oompa Loompa, mas o fazemos abraçando-a enquanto estamos em pé ou quando deitados, com ela recostada em nosso peito.

  • Quando se usa o método, apesar de estar explicado e mostrado em vídeo, nunca se conhece a compreensão de quem está do outro lado.

    Esse foi um comentário de um Pediatra no site da mãe:

    Sinto muito, mas como pediatra o vídeo me lembrou da síndrome a que muitos fazem referência, a do bebê sacudido – Síndrome do Shaken-Baby. Essa síndrome é real e desde já não digo que os gestos do vídeo possam reproduzi-la. Mas não quero nem pensar nas milhões de pessoas tratando de imitar, cada uma aplicando a ênfase e a força que julguem oportunos. Creio que seja obrigatório advertir sobre o risco existente. Uma só hemorragia, uma, por imitar o vídeo, já seria uma catástrofe.

Síndrome do bebê sacudido, ou como é conhecido internacionalmente Shaken-baby Syndrome, pode levar a traumas cerebrais importantes e não raro vemos crianças internadas quando submetidas a essa prática criminosa. Um dos sites sobre o tema é o do National Center of Shaken Baby Syndrome, onde há divulgação, por exemplo, de uma conferência internacional sobre o assunto que será realizada em Paris, em maio de 2014.

Para ilustrar, veja esse vídeo interessante sobre o tema. Vale como alerta (mas sem a chupeta que eles indicam, tá?). E mais informações podem ser obtidas nesse link.

  • Assim como esse vídeo é encontrado na internet, outros semelhantes podem ser encontrados. Nem todos eles podem ser levados a sério e servem mais como diversão (apesar de terem sido realizados por “pais” com seus bebês).

Alguns exemplos a seguir:

Vídeos engraçados – Como acalmar seu bebê (engraçado para quem, não é mesmo?).

Como acalmar um bebê que chora muito (imaginem isso às 3 da madrugada).

Como fazer o bebê parar de chorar– esse merece alguns comentários.

Apesar de ter sido divulgado por um pediatra, e com comentários muito favoráveis abaixo do vídeo, há algumas questões técnicas a se considerar:

  1. Se esse fosse o barulho que o bebê escutasse no útero (shhhh), com essa intensidade mostrada no vídeo, durante 9 meses, certamente teríamos lesões nervosas que poderiam interferir de forma significativa na sua audição. Uma decibelimetria (medida de som) mostraria a intensidade do som feita pelo profissional (e pelos praticantes do método) como além do tolerável à audição, especialmente se repetido por muito tempo.
  2. Estudo publicado no British Journal of Medicine em outubro de 2.009 associava um aumento de 24% do risco de Síndrome de Morte Súbita Infantil (SMSI) ao fato de se embrulhar o bebê, se comparados a um grupo controle (6%). Uma das possíveis explicações para isso seria que a caixa torácica do bebê estaria dificultada ou até impedida de se expandir adequadamente durante o processo respiratório.
  3. Estudos publicados no AAP News (News da Academia Americana de Pediatria) em junho de 2013 mostraram outra faceta prejudicial do hábito do “charutinho” (swaddle – em inglês). Assim, além do risco de SMSI pela excessiva restrição torácica, a Seção de Ortopedia do Comitê Executivo da AAP destaca que embrulhar o bebê precisa também apontar um cuidado com a restrição de quadris e pernas. Crianças embrulhadas de forma muito firme podem desenvolver problemas nos quadris como deslocamentos, displasia, formação anormal da articulação em que a cabeça do fêmur não fica posicionada na cavidade adequada do quadril. A AAP ainda não definiu uma posição oficial sobre o “conflito do charutinho”, mas a autora do Guia de Sono Seguro da AAP e membro do Grupo de Estudos sobre SMSI sugere que a criança não seja enrolada após 2 meses de idade (vale lembrar que a SMSI é mais comum nos primeiros 6 meses de vida) e, quando for, que seja mais solto nos quadris.

Acho que hoje foi mesmo mais light, vocês não acham?

A partir da próxima semana, vamos retomar mais informações científicas, estudos e até falar alguma coisa a respeito de problemas que podem interferir no sono das crianças (pesadelos, terror noturno, entre outros).

Conto com vocês aqui.

Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:

Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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