Fumo – o velho assunto de novo

Produtos do tabaco: cigarro, charuto, cachimbo, fumo de mascar, etc.

A recente lei antifumo do Estado de São Paulo renovou o que todos sabem há muitos anos, inclusive os fumantes: o mal que este hábito faz à saúde dos que fumam e dos que estão próximos a eles.

O fumo é considerado por muitos como a causa de doença e morte mais previsível do ser humano. A maioria das pessoas que fuma não tem consciência que este vício provoca dependência e causa males à saúde que se agravarão no decorrer de suas vidas.

A sensação que prevalece entre os fumantes é a diminuição da ansiedade e do estresse. Eles consideram o fumo um antidepressivo que ameniza “os aborrecimentos”.

Dados da Organização Mundial da Saúde revelam que o uso do tabaco acarreta, em aproximadamente, 5 milhões de óbitos por ano, ou seja, 10 mil falecimentos por dia. Se o ritmo atual de consumo for mantido, o número atual de mortos poderá alcançar 10 milhões por ano em 2020. No Brasil calcula-se que 17,4% da população é fumante, composta em sua maioria por adolescentes. São 2,7 milhões de consumidores de cigarros que tem idade entre 12 e 17 anos. Quanto mais cedo se inicia o uso do fumo, maior será a possibilidade do aumento de quantidade de cigarros por dia. O aumento tende a ser progressivo. No Brasil, são 200 mil mortes a cada ano.

É importante destacar que quando se fala em “fumo”, trata-se não somente do cigarro, mas também de outros produtos derivados do tabaco como: charutos, narguile, cachimbo, fumo de mascar, etc. Todos com efeitos nocivos semelhantes. Maiores ou menores, mas sempre prejudiciais à saúde.

Os estudos que avaliam os efeitos maléficos do fumo são contínuos e frequentemente são descobertos novos inconvenientes à saúde do ser humano, além das evidências já conhecidas, permanentes e debatidas que causam quase 50 doenças diferentes, principalmente as cardiovasculares (infarto, angina), respiratórias obstrutivas crônicas (enfisema e bronquite), o câncer, a infertilidade entre outras.

Cigarro e Fertilidade

O cigarro é considerado o veneno reprodutivo mais potente do século XXI. Vários estudos científicos comprovam seu efeito deletério sobre a saúde reprodutiva.

A fumaça do cigarro contém centenas de substâncias tóxicas, incluindo a nicotina, monóxido de carbono, polônio radioativo, alcatrão, colesterol, fenol, ácido fórmico, ácido acético, chumbo, cádmio, zinco, níquel, benzopireno e substâncias radioativas, as quais afetam a função reprodutiva em vários níveis, como a produção dos espermatozóides, motilidade tubária (importante para a captação do óvulo que sai do ovário no momento da ovulação), a divisão das células do embrião, formação do blastocisto (embrião com mais de 64 células) e implantação.

Mulheres fumantes também podem apresentar maior incidência de irregularidade menstrual e amenorréia (falta de menstruação). A fertilidade é reduzida em 25% nas mulheres que fumam até 20 cigarros ao dia, e 43% naquelas que fumam mais de 20 cigarros, ou seja, o declínio da fertilidade tem relação direta com a dose de nicotina. Durante a gestação, o fumo pode aumentar a incidência de placenta prévia (placenta baixa), descolamento prematuro da placenta e parto prematuro.

Deve-se sempre estimular as pessoas a parar de fumar, especialmente os casais que estão tentando engravidar e principalmente homens nesta situação que apresentam contagem de sêmen no limite inferior da normalidade. Entretanto, mesmo com contagem de sêmen normal, o fumo deve ser desencorajado.

Efeitos do cigarro sobre a fertilidade e gestação
(Publicado pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva – ASRM)

  • Homens e mulheres fumantes tem chances 3 vezes maior de sofrerem de infertilidade quando comparados àqueles que não fumam.
  • Tentando estabelecer uma relação causal, os estudos atuais mostram que 13% da infertilidade feminina pode ser atribuída ao cigarro. Lembrando que, 10 cigarros por dia já são o suficiente para prejudicar a fertilidade.
  • Mulheres tabagistas crônicas entrarão mais cedo na menopausa (um a quatro anos antes), o que pode ser atribuído à aceleração da diminuição do estoque de óvulos.
  • O hábito de fumar está associado a um aumento no risco de abortamento (aumenta em até 27%) e gravidez ectópica (gravidez nas tubas).
  • O cigarro na gravidez prejudica a fertilidade do filho homem.
  • Filhos de mães fumantes tem dificuldade no aprendizado escolar.
  • Filhos de pais fumantes tem maior chance de câncer.
  • Mutação genética é um possível mecanismo pelo qual o cigarro pode afetar a fecundidade e a função reprodutiva.
  • Estudos científicos demonstraram que mulheres fumantes necessitam de duas vezes mais tentativas de Fertilização in Vitro que as não fumantes, além de necessitarem nos tratamentos uma quantidade maior de medicamentos.
  • Homens que fumam tem muito mais espermatozóides anormais que os não fumantes e a porcentagem de espermatozóides anormais esta diretamente ligada ao número de cigarros fumados por dia.
  • Fumantes passivos (tanto homens como mulheres) com exposição excessiva ao cigarro também têm maior incidência de todas as alterações descritas acima.

É sempre bom lembrar

Lembrete geral – Outros males causados pelo tabagismo:

  • 200 mil mortes por ano no Brasil (23 pessoas por hora);
  • 25% das mortes causadas por doença coronariana, angina e infarto do miocárdio;
  • 45% das mortes causadas por doença coronariana na faixa etária abaixo dos 60 anos;
  • 45% das mortes por infarto agudo do miocárdio na faixa etária abaixo de 65 anos;
  • 85% das mortes causadas por bronquite e enfisema;
  • 90% dos casos de câncer no pulmão (entre os 10% restantes, 1/3 é de fumantes passivos);
  • 30% das mortes decorrentes de outros tipos de câncer (de boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo de útero);
  • 25% das doenças vasculares (entre elas, derrame cerebral);
  • Impotência sexual no homem;
  • Aneurismas arteriais;
  • Úlcera do aparelho digestivo;
  • Infecções respiratórias;
  • Trombose vascular;
  • Tosse do fumante;
  • Coloração amarela nos dentes e nos dedos;
  • Agravamento das alergias e da asma;
  • Arteriosclerose;

As doenças cardiovasculares e o câncer são as principais causas de morte por doença no Brasil, sendo o de pulmão o câncer que mais mata. As estimativas sobre a incidência e mortalidade por câncer no Brasil, publicadas anualmente pelo INCA indicam que, anualmente, cerca de 22 mil pessoas adoecem em decorrência do câncer de pulmão (15 mil homens e 7 mil mulheres) causando aproximadamente 16 mil mortes, das quais estima-se que, 12 mil deverão ocorrer entre os homens e 4 mil entre as mulheres. Porém ao abandonar o hábito do fumo, o risco de ter essas doenças vai diminuindo gradativamente e o organismo do ex-fumante vai se restabelecendo.

Dicas para largar o cigarro

O vício do cigarro é considerado por alguns como uma doença e enquanto não se admitir isto, não se consegue parar de fumar. O ideal é nem começar, pois dois terços daqueles que experimentaram acabaram viciados.

Procure não buscar justificativas nas exceções da vida para manter o seu vício, como por exemplo, “fulano (a) morreu jovem e não fumava e sicrano (b) que fumava viveu até a senilidade” ou: “fulano (a) não fumava e teve dificuldades em ter filhos e sicrano (b) que tinha o vício teve muitos filhos”. A regra é completamente diferente.

Por isso:

1. Não adie a sua decisão: o momento é agora. Pessoas que marcam datas futuras para o rompimento do cigarro como, por exemplo: “no ano que vem”, “depois do natal”, “na semana que vem”, etc., dificilmente cumprem a promessa.
2. Determinação: o dia que você determinou para por fim ao seu vício deve ser respeitado. Respeite a sua decisão e não procure desculpas para voltar atrás, a determinação é o artifício mais valioso.

3. Fumar sem tragar também faz mal, não acredite no contrário.
4. Não existe nenhum medicamento ou adesivo milagroso que faça que você não sinta vontade de fumar naqueles momentos em que você acendia o cigarro por hábito ou por prazer. O autocontrole é determinante.
5. Informe a seus familiares e amigos mais próximos sobre a sua decisão. Eles poderão reforçar a sua atitude. Não tenha medo de falhar, mas se isso acontecer tente de novo. Muitas das pessoas que conseguiram, não o fizeram na primeira tentativa.
6. Ao parar de fumar, não deixe cigarros ao seu alcance, não tenha no trabalho ou em casa e evite o convívio com fumantes.
7. Não abra exceção de forma alguma, nem balbucie a frase “só uma tragadinha, pois hoje é tal comemoração”.
8. Identifique quais são os gatilhos que o fazem acender o cigarro.
9. Tome líquido em abundância.
10. O período crítico são as duas primeiras semanas; cada dia é uma vitória.
11. Após 14 dias, você passou o período crítico e após um mês você já é um ex-fumante que só voltará se quiser.
12. Evite companhias de pessoas fumantes, pois podem levar à tentação. Evite festas, pois estes ambientes podem lavar a uma recaída. O ex-fumante deve evitar acender cigarro para colegas, ou fumar esporadicamente. Esta prática o levará novamente ao vício.
13. Faça exercícios, eles podem diminuir a vontade de fumar, além de controlar o estresse.
14. Não se dê o direito de voltar a fumar, caso esteja passando por algum problema ou contrariedade.
15. Se você se interessou por estas dicas, já é um bom começo. Parabéns.

No caso de ter parado de fumar, lembre-se de algumas causas que aumentam a chance de recaída:

– Morar com fumantes aumenta em 3 vezes;
– Usar o cigarro como estimulante aumenta em 6 vezes;
– Fumar a mesma quantidade de cigarros por dia aumenta em nove vezes;
– Insatisfação sexual aumenta em quatro vezes!

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Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi

Ginecologista Obstetra especialista em Reprodução Humana e Cirurgia Endoscópica Além de dedicar a maior parte de seu tempo ao conhecimento...

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