Cólicas em Bebês – parte 4

As cólicas em bebês existem mesmo? Se não existem, por que os bebês choram tanto? Deixei um tempo maior para apresentar essa não-última parte dessa série para que vocês se acostumassem com esses novos conceitos e essas novas ideias, tivessem dúvidas, esclarecessem aqui ou com seus pediatras.   Esse artigo faz parte de uma série, para ler as demais partes, acesse: Daqui pra frente, é necessário dividir as crianças com as chamadas “cólicas” em três grupos: Grupo 1: Criança saudável, em aleitamento materno exclusivo, com ganho de peso e estatura considerados adequados, sem patologias. Grupo 2: Criança saudável, em aleitamento materno misto ou uso exclusivo de fórmulas infantis, com ganho de peso e estatura considerados adequados, sem patologias. Grupo 3: Criança com alguma patologia (doença de refluxo gastroesofágico, intolerância à lactose, alergia à proteína do leite de vaca, entre outras), com ganho de peso e estatura considerados inadequados. Bebê chorando no colo da mãe - Foto: Johanna Goodyear/Shutterstock.com Vamos nos ater especialmente às crianças do grupo 1, também abordando as crianças do grupo 2 (sem patologias). As crianças do grupo 3 apresentam as chamadas “cólicas” como parte de seus sintomas que podem ser provocados, normalmente, pelo seu quadro e pelas agressões ao seu sistema digestório. Assim, vamos falar de bebês saudáveis, que choram demais e que apresentam como diagnóstico: cólicas.

Cólicas em bebês existem mesmo?

Quando um bebê tem febre (temperatura acima de 37,8), medimos no termômetro e podemos constatar esse dado de forma clara e sem nenhuma dúvida. Se um bebê “coloca o leite para fora” após a mamada, temos a prova de um refluxo de leite. Quando um bebê evacua mais vezes do que o habitual e perde peso, podemos estar defronte de uma criança com diarreia e/ou desidratação. Infecções urinárias, otites, bronquiolite, broncopneumonias são quadros que podem ser diagnosticados através de uma consulta, com avaliação clínica, seguida (ou não) de exames laboratoriais (de sangue, urina) ou de imagens (radiografias, tomografias entre outros). Mas como podemos diagnosticar com certeza absoluta que um bebê tem cólicas? A cólica é definida como uma contração dolorosa de um órgão oco. Como é possível fazer esse diagnóstico de certeza? Alguns pesquisadores acreditam que a cólica esteja relacionada à imaturidade do sistema digestório e que o intestino, por não ter aprendido ainda a funcionar de forma adequada, visto que dentro do útero a nutrição e alimentação do bebê eram feitas pelo cordão umbilical, contrairia de forma desordenada causando um descompasso da movimentação de fezes e gases e geraria dor. Esse desenvolvimento levaria cerca de 3 meses para acontecer e, por isso, após esse período as cólicas sumiriam. Outros estudiosos acreditam que a imaturidade do sistema nervoso e a sua incapacidade e falta de recursos para lidar com os estímulos constantes que recebem provocam um quadro de estresse no bebê que aparece normalmente no final do dia, quando é o horário mais comum das cólicas. Outros autores acreditam em uma nova possibilidade: o bebê sente muita dificuldade em lidar com tantas novidades nessa sua chegada ao mundo, por estar despreparado para essa mudança, tendo nascido antes do tempo adequado de amadurecimento de seus órgãos e sistemas. Assim, o choro é motivado por uma busca das condições intrauterinas, com as quais ele conviveu e estava habituado. Assim, sempre que o bebê estiver mamando ou no colo da mãe, ele se acalmaria e a “pretensa cólica” sumiria. Mas cólica não é sempre que o bebê chora sem motivo aparente, por um longo tempo, normalmente até os 3 meses, a maior parte das vezes no final do dia, se esticando ou se contorcendo ou se dobrando, ficando vermelhinho e soltando gases? E ainda mais se melhora quando se pega no colo ou se dá de mamar? Como saber disso com certeza? Como saber se esse choro não é de uma dor em algum outro lugar no corpo, se é um incômodo por um barulho incômodo ou pela falta incômoda de um som conhecido (batimento cardíaco e respiração da mãe)? Ou não poderia ser por conta de frio ou calor, sono com dificuldade de adormecer, sede ou até a insegurança da solidão?

E os gases?

Esses são outros possíveis injustiçados. Eles podem ser, na maior parte das vezes, consequências e não causas do problema. Vamos diferenciar dois tipos de gases: o arroto e os flatos (mais conhecidos como puns). O arroto é a saída de um ar que foi engolido e que está no estômago. Esse ar não costuma passar do estômago para o intestino. Ele costuma ser eliminado. Já os puns são resultado da digestão que acontece no intestino e que tem um cheiro característico (alguns mais do que outros… arghhh) e que não voltam para o estômago. Um bebê que mama no seio materno, com a pega adequada, consegue criar uma condição que não permite que ele engula ar. Assim ele não tem nem tanta necessidade de arrotar para dormir, embora esse estímulo possa ser dado. Já o bebê que mama leite na mamadeira ou usa chupeta engole muito mais ar (aerofagia) e esse sim pode incomodar e precisa ser eliminado pelo arroto. Outra possibilidade de acúmulo desses gases é quando o bebê chora. E se ele chora tanto, ele engole muito ar que incomoda no estômago e precisa ser eliminado. Uma situação muito comum: o bebê está chorando muito, a mamãe o pega em seu colo, ele arrota e acalma. Interpretação? Ele estava cheio de ar no estômago após mamar, estava incomodando, a mãe o levantou, ele arrotou, acalmou e dormiu. Se o bebê mama o seio na pega correta, o que provavelmente acontece é que o bebê mamou, a mãe o colocou no berço, o bebê sentiu sua falta e começou a chorar. Com o choro ele engoliu muito ar. A mãe o pegou no colo, acariciou e acalmou seu bebê, ele relaxou e aí conseguiu arrotar, eliminando o ar que ele engoliu enquanto chorava. Além disso, para eliminar os gases que foram parar no estômago através do arroto, a melhor posição é a vertical. Como antes “não era pecado” ficar com os filhos mais tempo no colo, eles eliminavam esse ar com mais facilidade. Agora, como o bebê mama, muitas vezes na mamadeira e é colocado a seguir no berço, muitas vezes com a chupeta, ele engole mais ar e tem mais dificuldade de eliminá-lo. Ficar com o bebê no colo por algum tempo após a mamada é bom para o bebê se acalmar, relaxar por estar com a mãe e dormir melhor. Pode ajudar também para evitar refluxo (mesmo o fisiológico, o regurgitar). Ele pode até arrotar nessa hora. Que bom, né? Mas se não acontecer, pode ser porque ele mamou bem, teve uma pega adequada, não engoliu ar e assim não tem o que arrotar.

Mas se não existe uma certeza que as cólicas existem, por que o bebê chora tanto?

O bebê pode chorar por inúmeras razões: fome, sede, frio, calor, sono, solidão, dificuldades de adaptação… Há bebês que choram mais e outros que choram menos e isso pode acontecer porque há bebês que têm mais razões para chorar e outros menos, ou porque há bebês que têm seus problemas resolvidos de forma mais eficaz e outros menos. Alguns fatores podem ser determinantes nessa diferenciação. Mas isso fica para a semana que vem. Ainda vamos falar sobre essas razões do choro, um pouco mais sobre a exterogestação e sobre o que fazer, quer sejam mesmo cólicas ou alguma outra possibilidade para que o bebê se acalme, permita que as mamães se acalmem, o que vai fazer o bebê se acalmar, o que vai fazer a mamãe… tá, já deu pra entender não é mesmo? A gente se encontra por aqui na próxima semana? Até lá. Esse artigo faz parte de uma série, para ler as demais partes, acesse:
Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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